(FOLHAPRESS) – Uma varredura determinada pelo presidente do Corinthians, Augusto Melo, encontrou câmeras e microfones escondidos no gabinete do mandatário no Parque São Jorge. O cartola assumiu o cargo no último dia 2 de janeiro.
Ao menos três equipamentos de espionagem foram localizados no andar em que fica a sala do cartola e onde ocorrem também reuniões com outros dirigentes e conselheiros.
A reportagem obteve a informação com três fontes distintas e ainda teve acesso a fotos que mostram os equipamentos escondidos. Um deles estava atrás da tela de um quadro que fica atrás da mesa de Augusto. Outro foi encontrado em um interruptor de tomada, e o terceiro, debaixo da mesa da secretária da presidência.
Além dos membros da nova diretoria, os locais são frequentados por empresários de atletas e executivos de empresas com as quais o clube mantém ou negocia parcerias.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do clube confirmou a informação. Em nota curta, disse apenas que “a nova administração do Corinthians lamenta, mas não se surpreende com o ocorrido”.
O clube não informou, porém, se possível identificar uma transmissão ao vivo das imagens captadas pelas câmeras ou se havia algum tipo de receptação.
O ex-presidente Duilio Monteiro Alves, antecessor de Augusto, também foi procurado para comentar o caso, mas não atendeu as ligações nem respondeu as perguntas enviadas por mensagens até a publicação deste texto. Assim que ele fizer, o texto será atualizado.
Até o momento, o presidente do Corinthians optou por não fazer um boletim de ocorrência. De acordo com pessoas próximas ao cartola ouvidas pela reportagem, ele teme ser acusado de ele próprio ter plantado os equipamentos para criar uma notícia.
Além disso, há uma desconfiança de que o alvo inicial do esquema de espionagem possa nem ser Augusto.
No último ano de seu mandato, o ex-presidente Duilio Monteiro Alves acabou se distanciando do grupo que o ajudou a se eleger.
Parte do grupo divergia sobre uma suposta intenção de Duilio de tentar uma reeleição –algo que é vetado pelo estatuto do Corinthians. Pessoas ouvidas pela reportagem afirmaram não descartar que o próprio ex-presidente tivesse sido monitorado por pessoas de seu grupo político.
Sem Duilio na corrida, a disputa pelo cargo foi marcada por uma série de ataques verbais entre membros das duas campanhas que concorreram à presidência, de Augusto Melo e André Luiz de Oliveira.
Em julho, durante entrevista à Folha de S.Paulo, Augusto afirmou que sofria ameaças de morte. Disse ainda que andava com segurança, usava um carro diferente a cada semana e registrou boletim de ocorrência para denunciar ligações e mensagens para ele e seus familiares em diferentes horários, até de madrugada.
Na véspera do dia da eleição, a sede do Corinthians também foi alvo de um atentado. Na ocasião, o clube informou que tiros foram disparados contra a fachada do Parque São Jorge por volta das 3h30. Ainda de acordo com o clube, o fato foi comunicado à Polícia Civil.
No dia da eleição, houve um reforço no policiamento no entorno do local para proteger os associados que se deslocaram para votar.
Augusto Melo derrotou André Negão por uma ampla vantagem de votos: 2.771 contra 1.413. O resultado pôs fim ao ciclo de mandatos de cartolas do mesmo grupo, iniciado por Andres Sanchez, presidente em dois momentos (2007-2011 e 2018 a 2021), Mário Gobbi Filho (2012-2015), Roberto de Andrade (2015 a 2018) e Duilio Monteiro Alves (2021 a 2023).
Durante a gestão de Roberto de Andrade, Augusto Melo teve cargo nas categorias de base, com uma série de denúncias de corrupção em sua área -ele sempre negou qualquer irregularidade. Augusto virou oposição em 2017, logo após ter deixado a função na base do clube.
No final daquele mesmo ano, ele foi vice na chapa de Antonio Roque Citadini, que concorreu à presidência. Em 2020, foi a vez de Augusto se lançar como cabeça de chapa, num pleito em que acabou derrotado por Duilio por uma diferença de apenas 145 votos.
Desde que venceu a eleição realizada em novembro de 2023, Augusto Melo não tem poupado críticas à ex-diretoria e repete com frequência que, sob seu comando, o clube passará por um choque de gestão, o que inclui também mudanças nas áreas de segurança do Corinthians, que levaram o cartola a supostamente encontrar os equipamentos de espionagem.
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