SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma das quatro reféns soltas pelo Hamas desde que o grupo terrorista invadiu o território israelense, em 7 de outubro, Yocheved Lifshitz, 85, descreveu nesta terça-feira (24) sua experiência durante os 17 dias que passou em cativeiro na Faixa de Gaza.
“Passei pelo inferno”, disse ela à imprensa em um hospital de Tel Aviv, ainda visivelmente cansada. Ela ressaltou, porém, que foi bem tratada durante o período, e seu relato indica que a facção mantém uma operação estruturada, que inclui médicos, paramédicos e seguranças.
Ela e Nurit Cooper, 79, foram soltas na segunda-feira (23) após negociações mediadas pelo Qatar e pelo Egito. Apenas outras duas pessoas da cifra dos mais de 200 indivíduos sequestrados divulgada por Tel Aviv foram libertadas desde o início da guerra -as americanas Judith e Natalie Raanan, mãe e filha, em 20 de outubro.
Lifshitz é moradora de Nir Oz, um dos kibutzim próximos à fronteira com Gaza atacados pelos terroristas em sua incursão ao território do início do mês. Segundo a Kan, emissora pública israelense, acredita-se que um terço dos 400 residentes do kibutz foram mortos ou sequestrados na data. Autoridades de Israel não confirmaram o número, mas estimam que cerca de 1.400 de seus cidadãos morreram durante o ataque.
A israelense contou que a chegada dos terroristas a Nir Oz pegou os moradores de surpresa. “Invadiram nossas casas. Agrediram as pessoas e sequestraram outras, idosas ou jovens, sem distinção.” Ela foi uma das sequestradas, e conta que foi praticamente jogada sobre uma moto que a levou até um local próximo da fronteira com Gaza.
“Minhas pernas estavam de um lado e o resto do meu corpo, de outro” durante a viagem, disse Lifshitz, acrescentando que teve seu relógio e joias roubadas durante o percurso. “Bateram em mim. Não quebraram minhas costelas, mas doeu, e fiquei com dificuldade para respirar.”
Já dentro de Gaza, o grupo de reféns foi levado à rede de túneis subterrâneos construída pelo Hamas. Acredita-se que o local, que a israelense descreve como uma “teia de aranha”, sirva de esconderijo para membros da facção e armamentos.
Lifshitz diz ter andado por quilômetros debaixo da terra até chegar a um grande salão subterrâneo onde havia cerca de 25 pessoas. Ela e outros quatro moradores de Nir Oz foram então separados e postos em uma sala diferente. Cada um deles tinha um guarda próprio, que os vigiava 24 horas por dia, e um médico visitava o grupo dia sim, dia não.
“Se não tinham exatamente o mesmo remédio, eles nos traziam um equivalente. E eles cuidaram bem dos feridos”, disse ela. “Quando chegamos lá, eles antes de tudo disseram que acreditavam no Alcorão e que não pretendiam nos machucar.”
Lifshitz contou que, além dos medicamentos, seus sequestradores ainda forneceram produtos de higiene. Ela e seus companheiros de cárcere eram alimentados com as mesmas provisões escassas que seus guardas recebiam: uma única refeição diária de pão árabe, dois tipos de queijo e pepino.
A israelense foi entregue pelo próprio Hamas à Cruz Vermelha na segunda-feira, mas não está claro se era o próprio grupo ou outra das facções palestinas que a manteve como refém nas últimas semanas. Um vídeo documentando a soltura dela, filmado e divulgado por terroristas, a mostra cumprimentando um de seus sequestradores, cujo rosto estava coberto por uma máscara, e repetindo a palavra hebraica “shalom”, que significa tanto adeus como paz.
Questionada sobre porque ela fez aquilo pela agência de notícias Reuters, ela respondeu que os sequestradores haviam tratado os reféns com gentileza e satisfeito todas as suas necessidades.
Seu neto, Daniel Lifshitz, explicou à mesma agência que a avó é ativista e atuava ajudando palestinos de Gaza a receberem tratamentos médicos em Israel, encontrando-os na principal fronteira entre o Estado judeu e o território palestino e levando-os de carro até hospitais.
Ele também afirmou que sua avó permanecerá no hospital por enquanto, acrescentando que ela “precisará de muito tempo para se recuperar disso, mesmo parecendo forte.” Tanto o marido de Lifshitz, Oded, 83, quanto o marido de Cooper, Amiram, 85, continuam detidos em Gaza segundo as informações disponíveis.
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