Em razão da greve unificada aprovada em assembleia-geral na noite de segunda-feira, 2, a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) estão sendo afetadas desde o início da manhã desta terça-feira, 3.
Na noite de segunda, os funcionários do Metrô, da CPTM e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) votaram e aprovaram a paralisação conjunta que começou à 0h desta terça-feira, e já vinha sendo alertada pelos sindicatos desde a semana passada. A paralisação das atividades deve durar 24 horas.
Quais linhas estão sendo afetadas pela greve desta terça-feira?
Metrô
– Linha 1-Azul: fechada;
– Linha 2-Verde: fechada;
– Linha 3-Vermelha: fechada;
– Linha 15-Prata: fechada.
CPTM
– Linha 7-Rubi: de Caieiras a Luz;
– Linha 10-Turquesa: fechada;
– Linha 11-Coral: de Guaianases a Luz;
– Linha 12-Safira: fechada;
– Linha 13-Jade: fechada.
No início da manhã desta terça-feira, todas as linhas de gestão pública da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) já se encontravam paralisadas ou em operação parcial. As linhas 10-Turquesa, 12-Safira e 13-Jade amanheceram fechadas, enquanto as linhas 7-Rubi e 11-Coral estão, desde as 5h15, operando parcialmente. Enquanto isso, as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, de trens metropolitanos, administradas pela iniciativa privada, seguem em funcionamento normal.
No Metrô, apenas as linhas 4-Amarela e 5-Lilás, da iniciativa privada, permanecem operantes, o restante das linhas amanheceu de portas fechadas.
Paralisação causa transtornos a passageiros
Moradora do Jardim Santo Antônio, na zona leste da cidade, a técnica de enfermagem Katia Angelina, de 38 anos, se preparou para pedir um carro de aplicativo por volta de 5h. A ideia era tentar driblar a greve e chegar a tempo no trabalho em uma instituição em Indianópolis, na zona sul. Em vão, mesmo pedindo com antecedência, a corrida estava mais cara.
“Não tinha como pagar isso, então vim de ônibus para a Estação Corinthians-Itaquera para tentar carro de aplicativo daqui”, disse ela, que normalmente vai de Metrô para o trabalho. O expediente começava às 8h. Ao chegar na estação, encontrou o local bem mais cheia que o normal. O preço da corrida estava R$ 70. “Está bem mais alto, mas não tenho o que fazer, vou tirar do meu bolso.”
Do outro lado da cidade, no Jabaquara, na zona sul da capital paulista, os portões também amanheceram fechados, com cartazes de greve e um grupo de metroviários explicando para a população os motivos da paralisação. O movimento de passageiros era pequeno, mas algumas pessoas não sabiam sobre a paralisação e deram de cara com os portões fechados ao chegarem na estação, como foi o caso do pintor Josemir Teixeira, de 29 anos, que também foi pego de surpresa.
“Eu moro na divisa com Diadema e trabalho na Raposo Tavares. Pego o Metrô todo dia por volta das 6h”, conta Josemir. “A empresa em que eu trabalho não falou nada da greve. Eu descobri agora. Avisei para eles e estão mandando um encarregado para me buscar, porque não tem como eu ir de ônibus daqui.”
Seguindo a orientação dos próprios metroviários, alguns trabalhadores, como o encanador José Veneranda, de 31, optaram por tirar uma foto do portão da estação fechado com indicativo de greve para justificar a falta no trabalho. Sentado em frente à entrada, ele afirmou que iria enviar a fotografia ao RH da empresa em que trabalha, na Barra Funda. “Não tem como ir de ônibus até lá”, afirma, mostrando quanto tempo demoraria o trajeto por ônibus.
Parte dos passageiros demonstrou apoio à paralisação, mesmo dizendo não compreender completamente a pauta de reivindicações. “Eles estão certos, tem que lutar mesmo”, diz Veneranda. No entanto, o motivo da greve não parece claro, mesmo com as explicações dos metroviários na porta da estação. A maioria das pessoas acredita que eles lutam por aumento de salário – na verdade, a pauta é barrar possíveis privatizações no serviço, alegando que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já estaria negociando a concessão de mais linhas do metrô e da CPTM à iniciativa privada.
Categorias protestam contra plano de privatização
As categorias são contra a privatização das três empresas públicas. Os sindicatos alegam que a transferência das operações ao setor privado, por parte da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), carece de maior discussão com a sociedade e que projetos do tipo podem piorar a qualidade dos serviços.
“Queremos o cancelamento de todos os processos de privatização e terceirização das empresas públicas, e exigimos realização de um plebiscito oficial para consultar a população sobre as privatizações das empresas”, disse Camila Lisboa, presidente do sindicato dos metroviários, na assembleia desta segunda.
As entidades afirmam que a concessão de linhas de transporte e a operação da rede de água e esgoto vão piorar a qualidade dos serviços. O principal argumento dos sindicalistas é o aumento das falhas nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM, o que resultou em mais queixas dos usuários no início deste ano.
A privatização desses dois ramais de trens viraram alvo de investigação do Ministério Público e motivo de dor de cabeça para o governo paulista, que aplicou multas e fez uma série de reuniões para resolver o impasse. A ViaMobilidade, consórcio que assumiu as linhas, tem afirmado fazer obras de melhorias e colocado novos trens em operação.
Os engenheiros do Metrô, porém, decidiram não participar da greve. O comunicado foi emitido após liminar do TRT da 2ª Região, que indeferiu recurso interposto contra a decisão pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo e, no mesmo documento, estendeu os efeitos da decisão ao Sindicato dos Engenheiros do Estado (SEESP), incluindo o pagamento de multa diária de R$ 500 mil. O Sindicato dos Engenheiros, então, recuou da participação na greve e, na noite desta segunda-feira, comunicou a decisão à direção do metrô.
Em virtude do movimento de greve, o governo de São Paulo decretou ponto facultativo em órgãos públicos – com isso, consultas, exames e demais serviços públicos agendados para esta terça deverão ser remarcados.
Também com o objetivo de diminuir os impactos da paralisação, a Prefeitura da capital paulista suspendeu o rodízio de veículos para esta terça (continuará funcionando normalmente para caminhões) e ampliou o itinerário de 26 linhas municipais de ônibus.
As linhas 4-Amarela e 5-Lilás, de metrô, e as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, de trens metropolitanos, administradas pela iniciativa privada, funcionam normalmente, segundo a Via Quatro e a Via Mobilidade.
Os funcionários também definiram pontos de piquetes. Os ferroviários deverão se juntar nas estações da Luz, Mauá, Pirituba e Francisco Morato; enquanto os metroviários organizam manifestações nos pátios de Itaquera, Belém, Oratório, Tamanduateí e na estação Ana Rosa. Os piquetes dos trabalhadores da Sabesp estão programados para os seguintes endereços: Avenida Santos Dumont, Rua Sumidouro, Avenida Santo Amaro e Rua Sebastião Preto, na Mooca.
A liberação de catracas chegou a ser sugerida pelo Sindicato dos Metroviários, mas a Justiça do Trabalho não autorizou a medida. E segundo o sindicato, não haverá interrupção do fornecimento de água.
Governo critica movimento grevista
O governo de São Paulo define o movimento como “ilegal” e “abusivo”. “É absolutamente injustificável que um instrumento constitucional de defesa dos trabalhadores seja sequestrado por sindicatos para ataques políticos e ideológicos à atual gestão”, afirmou a gestão Tarcísio em nota.
O governador do Estado deve fazer um pronunciamento nesta terça, às 7 horas, junto com os presidentes das três companhias, para detalhar as medidas de contingência para diminuir os impactos da paralisação de parte do transporte de São Paulo, e nos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgotos na capital.
“É importante esclarecer à população que a greve não foi convocada para reivindicar questões salariais ou trabalhistas, mas sim para que os sindicatos atuem, de forma totalmente irresponsável e antidemocrática, para se opor a uma pauta de governo que foi defendida e legitimamente respaldada nas urnas”, continuou o governo.
A gestão Tarcísio afirma ainda que os debates para a privatização devem ser feitos em audiências públicas “e não por meio da ameaça ao impedimento do direito de ir e vir do cidadão”. “É por meio do processo de escuta de diálogo das desestatizações que os sindicatos contrários devem se manifestar, de forma democrática, convencendo atores políticos e a própria sociedade de que a proposta do governo de São Paulo não é a ideal”, disse em nota.
O Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT) concedeu na sexta-feira, 29, liminares ao Metrô e à CPTM determinando a operação de 100% dos serviços no horário de pico (6h às 9h e das 16h às 19h) e de 80% nos demais horários, com multa de R$ 500 mil para cada um dos sindicatos em caso de descumprimento. Na Sabesp, a taxa de trabalhadores que devem atuar é de 85% e a multa, de R$ 100 mil.
Suspensão do rodízio
A Prefeitura de São Paulo anunciou a suspensão do rodízio de veículos na capital nesta terça-feira, em função da greve de 24 horas realizada pelos funcionários do Metrô, da CPTM e da Sabesp.
Aulas da rede estadual são suspensas
A Secretaria da Educação do Estado decidiu suspender as aulas da rede na capital e região metropolitana nesta terça-feira em razão da paralisação no transporte. “A dispensa foi definida para que nenhum estudante ou trabalhador seja prejudicado com eventuais faltas, na impossibilidade de chegar até a escola”, informou a pasta.
Segundo a administração estadual, todas as provas serão reagendadas, “inclusive nas escolas que estão aplicando a repescagem da Prova Paulista, a avaliação bimestral aplicada em toda a rede”. “A Seduc-SP também organizará a reposição de aulas, em data a ser divulgada em breve.”
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